Um caminho

Há alguns meses não posto nada novo no blog, pois estive lutando para encontrar um caminho de vida. Tenho participado de rodas de conversas sobre suicídio e falar abertamente sem julgamento ou interrupções sobre toda essa bagunça dentro de mim tem me ajudado a organizar o pensamento e aliviar o peso de carregar essas histórias.

Sempre pensei que se dizer algo em voz alta, isso se torna oficial, por isso sempre que algo ruim acontece comigo evito a todo custo dizer em voz alta. Durante as rodas de conversa ouvi  minha própria voz contando as minhas dores e isso me deu um alivio, como se estivesse prendendo a respiração e nunca tivesse percebido.

Meus últimos posts falavam um pouco sobre minha relação toxica com um amigo que inicialmente me guiou para a casa de Deus, mas aos poucos me vi como serva deste amigo, bobamente apaixonada e com medo de que ele se afastasse de mim.

Nos últimos dias tivemos brigas terríveis que me levaram ao completo desespero, no auge da minha angustia enviei muitas mensagens pra ele, o que o levou a me dizer coisas horríveis que fizeram eu me sentir despedaçada.

Após horas incontáveis de choro vi um caminho sem ele, tenho tentado seguir este caminho. Estranhamente me sinto quebrada, pois o caminho natural pra mim é o suicídio, mas por causa destas rodas de conversa não consigo ver esse caminho com clareza.

Vi um caminho de vida e decidi seguir por ele, mas ele exige sacrifício, luta, determinação e fé, muita fé.

Vou andar por este caminho até onde minhas forças me levarem e desejo que elas me levem até a vitória. Pra mim a vitória é quando alcançar o objetivo ter um novo ao invés de um ponto final.

Ainda penso que tudo seria mais fácil se eu tivesse morrido em setembro de 2017, mas desta vez vou fazer do modo difícil.

Sem efeito

Estou muito triste, pois tomei mais de 12 pacotes de Mortein Pro Raticida e não aconteceu nada. Me pergunto porque Deus faz isso, porque ele quer que eu sobreviva sem viver.

Tento viver, faço exercícios, vou a lugares novos, nunca me queixo as pessoas a minha volta, frequento a igreja, leio a bíblia e tento ser gentil e respeitar todos a minha volta, mas nada é o suficiente. A todo o momento me vejo em situações onde tenho que esticar ao máximo minha capacidade de amar e perdoar. Por mais que evite ficar remoendo o passado sempre tenho fantasmas a minha volta.

Me isolo e me forço a focar na realidade, evito de todas as formas ter fantasias e isso acaba me impedindo de sonhar.

Parece que quanto mais tenho medo de algo, mais próximo isso fica de mim e quando  oro implorando, suplicando a Deus que me livre de passar por algo ele sempre me faz passar por isso.

Se Deus é real ele esta se divertindo muito hoje assistindo a minha decepção por o veneno não ter efeito nenhum.

Ele me abandonou ou esta me testando?

A pouco mais de uma semana senti uma necessidade intensa de me conectar com Deus, desde então tenho tentado ir a igreja. No primeiro domingo fui á igreja católica próxima a minha casa. Acordei bem cedo, tomei café da manhã em silêncio, me arrumei e até passei perfume. Sentia como se fosse um encontro, estava indo encontrar um velho amigo e fazer as pazes. Cheguei na igreja alguns minutos antes da missa começar e me deparei com algo inesperado. A igreja estava de férias. Senti como se Deus tivesse me dado um fora, totalmente rejeitada.

Não consegui assimilar o que estava acontecendo e me senti envergonhada demais para voltar pra casa, então andei algumas quadras sem rumo. Neste dia um amigo muito religioso me convidou para comer pizza, ainda não nos conhecíamos muito bem e não tínhamos muita intimidade, mesmo assim eu precisava desabafar e contei o quão frustrada e envergonhada estava com aquela situação. Alguns dias depois este mesmo amigo me convidou para ir na igreja batista, que ele frequenta. Aceitei o convite, no dia marcado me arrumei e esperei por ele, refleti o dia todo sobre o que esperar da igreja e com uma certa expectativa de me conectar com os membros da igreja, criar um vinculo, entrar na comunidade, fazer parte de algo. Porém, houve um imprevisto no trabalho do meu amigo e ele não pode ir na igreja aquele dia. Foi então que uma voz me disse:”É tarde demais.”.

Agora esta dúvida me assombra, Deus me abandonou? É tarde demais para tentar fazer as pazes? Ou estaria ele me testando? O quão disposta estou em busca lo?

Estou sentada no corredor de um prédio em chamas olhando a saída de emergência. Devo ou não sair por ela?

Pra mim o suicídio é sempre uma opção.

Esperança

Desde a última tentativa de suicídio tenho apenas passado meus dias, sem planos, sem perspectiva, sem desejos ou sonhos, apenas passando o tempo sem prestar atenção em nada e dizendo a meus amigos e familiares que me sinto melhor e que tenho esperança de que coisas boas viram. Á pouco mais de um mês mudei de estado com a intenção de ficar longe da minha família, principalmente minha mãe e irmã. Neste local onde vivo à muitas pessoas que como eu tiveram um momento muito difícil na vida e tiveram que começar novamente, são pessoas atravessando o deserto da incerteza e cada um tem sua cota de tristeza e decepção, cada um tem um motivo para continuar. Nunca gostei de comparar a minha dor com as dos outros, pois somente quem esta sentindo é capaz de perceber a dimensão da sua própria dor, se por algum ponto de vista meus problemas parecem maiores ou menores que dos outros não me dou o direito de julga los. Semana passada enviei uma mensagem a um amigo que conheci neste local e ele me respondeu com um áudio onde ele explicava que estava na igreja ouvindo a palavra de alguém que ele admirou muito e neste áudio ele falava com tanta fé e alegria que não consegui prestar atenção ao o que ele dizia, pois o fervor das palavras dele me tocaram profundamente, me fazendo perceber que desde a última tentativa de suicídio fiquei com raiva de Deus, me senti rejeitada por ele, muitas vezes sozinha neste quarto frio perguntei a ele “O que estou fazendo aqui?” , mas aquela alegria que meu amigo sentiu, por causa da fé dele mexeu comigo e me fez ver o quanto sinto falta de acreditar em Deus, de fazer as pazes com ele. Decidi procurar uma igreja e fazer parte de uma religião. Quase em frente ao local onde moro á uma igreja católica, fui até lá e vi o dia e horário da missa e no domingo pela manhã fui até lá para enfim me encontrar com Deus e fazer as pazes, mas havia um recado na porta da igreja informando que ela estava de férias e que não haveria missa. Senti como se Deus tivesse me dado um bolo, mais rejeitada do que nunca, simplesmente achei que não fosse real, não poderia ser real, mas sim, a igreja fechou as portas pra mim. Passei todo o domingo andando pela cidade tentando entender o que tinha acontecido, se seria tarde demais pra mim, se havia algum sentido em tudo isso. Então o mesmo amigo me convidou para sair, fomos apenas nos dois(algo que não costuma acontecer) a uma pizzaria. Estava tão abalada com o que tinha acontecido que acabei contando tudo pra ele, sobre o áudio, minha tentativa de suicídio, minha tentativa de fazer as pazes com Deus e como me sentia idiota por estar passando por isso e desabafando com ele. A empatia dele me fez sentir muita esperança de que alguma coisa boa virá até mim, me fez querer tentar me aproximar de Deus outra vez e adiar o novo plano suicida. Sim, eu ainda penso em me matar, mas pela primeira vez eu quero tentar viver um pouco antes de planejar.